Não
se pode negar que a maior parte das tentativas de inovar na tecnologia de se
produzir concreto, passa de alguma forma pela aplicação de aditivos especiais.
E a pressão pela inovação é cada vez maior no mercado da construção civil e
diversos são os fatores a pressionar: É preciso reduzir as emissões de carbono,
então quanto mais performance se obter de dosagens menores de cimento, melhor.
É preciso reduzir os custos de produção, é cada vez mais difícil e caro se
extrair e transportar matéria prima e o concreto hoje chega cada vez mais longe
dos centros urbanos. É preciso melhorar a produtividade das construtoras, com
os prazos cada vez mais curtos e a mão de obra cada vez mais cara, mostrando
que nosso pais está saindo de vez do terceiro mundo. É preciso lançar o
concreto cada vez mais alto, cada vez mais profundamente, cada vez mais longe.
É preciso dar um grande passo evolutivo, abandonando velhos conceitos, da mesma
maneira que abandonamos no passado a fila de carrinhos de mão na porta dos
elevadores, a décadas atrás, e passamos a bombear o concreto.
E
um velho conceito que, na minha opinião, se interpõe no caminho desta evolução
é a exigência do slump máximo. Hoje, quando uma construtora adquire concreto,
define-se o slump de lançamento a ser estabelecido em contrato e a respectiva
faixa de variação, em centímetros, para mais ou para menos. 6+-1 cm, 10+-2 cm,
16+-3 cm, etc. Se por acaso um concreto com slump de projeto definido em 10+-2
chega na obra com slump 13, 14 cm ele será rejeitado e devolvido para a
concreteira. Isso se dá porque, se o slump é superior ao determinado, há uma
grande chance de que se tenha colocado mais água do que o limite, comprometendo
assim o fator água / cimento e consequentemente a resistência mínima a
compressão.
Ora,
quando se trata de concretos convencionais, que usam aditivos plastificantes
comuns ou apenas retardadores de pega de origem orgânica, baratos e sem grandes
perspectivas, isso é bem verdade. Mas isso criou uma inversão de responsabilidades
muito importante. Ora, se você Construtor está adquirindo o concreto de uma
grande empresa fornecedora, Acha que quem deveria se preocupar e se certificar
da resistência e qualidade do concretoé você? Será mesmo sua função participar
do controle de qualidade da concreteira a ponto de inferir na dosagem de água e
na proteção do fator a/c? Será que o slump máximo é, então, um item
imprescindível para o controle de recebimento do concreto?
Estas
perguntas são respondidas hoje com um sonoro “SIM”, porque vivemos em um
ambiente em que o cliente não confia na prestação de serviço da concreteira. E
muitas vezes a concreteira que não é comprometida com a qualidade se faz valer
desse controle feito pelo cliente, no local da entrega, para economizar no seu
próprio quintal. Quem for lá na companhia onde eu trabalho verá um setor
inteiro dedicado ao controle do fator a/c durante a produção com maquinário,
instrumentação e funcionários específicos e tudo isso custa dinheiro. Mas é
preciso restaurar a confiança na parceria cliente / concreteira e eu digo
porque:
Se
hoje nós temos aditivos superplastificantes a cada dia mais capazes de se obter
grandes performances de trabalhabilidade e resistência mecânica dos concretos,
porque usamos eles apenas em casos especiais? Porque não usamos no fck 25,0 ou
30,0 comuns que preenche a grande maioria das vigas e lajes por aí? O principal
motivo, na minha opinião, é a manutenção de plasticidade. Ou seja, o tempo que
o concreto permanece com slump acima do limite mínimo. Observe abaixo os
resultados do ensaio de slump ao longo do tempo do mesmo traço de concreto,
apenas mudando a dosagem de um determinado aditivo (de próxima, não última,
geração):
Baixa
dosagem de aditivo:
Tempo Slump
T 0 100
mmT 30 min 80 mm
T 60 min 70 mm
T 90 min 60 mm
Dosagem
de aditivo ligeiramente maior:
Tempo Slump
T 0 180
mmT 30 min 170 mm
T 60 min 160 mm
T 90 min 155 mm
Observe
como a manutenção de plasticidade é muito mais eficiente quando se trabalha com
slumps maiores, concretos mais plásticos. E neste segundo caso, mesmo com a
dose maior de um aditivo caro, o custo é muito similar a um concreto comum de
slump 9+-1 cm que usa aditivos normais. O problema é a imprevisibilidade do
slump inferior. Ora, se a temperatura muda, o tempo de transporte varia, o
concreto poderá chegar com slumps diferentes à obra. A única maneira de se
trabalhar nestas condições era estabelecer um limite mínimo de slump, deixando
o limite máximo livre, uma vez que se sabe que o fator a/c não está sendo
alterado, apenas a manutenção de plasticidade mudou com as condições de
contorno. Isso é bem fácil de acordar em uma situação especial mas para o
concreto comum do dia a dia demandaria uma mudança comportamental muito grande.
Obra realizada com concreto Agilia, sem definição de slump superior, sem vibradores, sem barulho, sem vazios de concretagem, sem perda de tempo.
Claro
que situações específicas, exceções, seriam tratadas como exceções, mas se você
precisa na obra de um concreto com slump mínimo de 10 cm e ele chega com 15,
16, 17 ou 11, que diferença faz (não sendo um piso industrial, por exemplo)? Se
a concreteira garantisse pra você a resistência e o a/c, apesar da variação de
slump, que mal isso traria? Percebi que no mercado europeu, especificamente o
francês que tive a oportunidade de conhecer melhor, isso já acontece. O cliente
quer saber do slump mínimo: “Deu mais de 10? pode lançar”. O resultado é um uso
generalizado de aditivos superplastificantes e uma naturalização dos concretos
fluidos e autonivelantes, sem que isso signifique custos mais altos,
necessariamente.
Acho
que está na hora de parar de subestimar a tecnologia de concreto no Brasil e
começar a abandonar os fck 20 slump 10 e começar a mirar no Concreto de alto
desempenho, no autonivelante, na alta resistência inicial. Obter ganhos
financeiros ainda na prancheta do projetista e não apenas no telefone do departamento
de compras. Trazer a tecnologia de concreto para a fase de planejamento.
Escolher bem a concreteira que vai te atender, valorizar a confiabilidade acima
do preço por metro cúbico. Assim vamos aos poucos criando um ambiente
progressista que permitirá o salto de evolução que a técnica atual já admite.
Forte
abraço!
Olá Carlos!
ResponderExcluirAssunto muito interessante na área de tecnologia do concreto.
A nova norma de concreto dosado em central a NBR 7212 (ABNT, 2012) já aborda uma mudança na especificação da trabalhabilidade do concreto, Desse modo, o concreto seria especificado pela classe de consistência, variando dentro de uma faixa de abatimento maior do que a especificação da norma revisada.
E também, é abordado a adição suplementar de aditivo (no caso plastificante) para correção do abatimento caso já tenha colocado toda a água prevista no traço.
Um forte abraço!
Caro Guilherme, tua presença constante é uma alegria pra mim. Sabe, é exatamente nesta mudança da 7212 que eu me apoio para dar andamento a meu estudo com esta nova linha de aditivos. Neste momento, apenas aguardo uma bateria de amostras que aguardo ansiosamente, desde antes das festividades de fim de ano. Me prometeram pra esta semana...
ExcluirBom dia
ResponderExcluirPara quem necessita de identificação para concretos ou itens de construção em civil em geral recomendo a VC Artefatos de Papel.
http://www.vcartefatosdepapel.com.br/
Atendimento ótimo e produto de qualidade.