quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Slump máximo do concreto: Um pequeno e eficiente freio no desenvolvimento



 

Não se pode negar que a maior parte das tentativas de inovar na tecnologia de se produzir concreto, passa de alguma forma pela aplicação de aditivos especiais. E a pressão pela inovação é cada vez maior no mercado da construção civil e diversos são os fatores a pressionar: É preciso reduzir as emissões de carbono, então quanto mais performance se obter de dosagens menores de cimento, melhor. É preciso reduzir os custos de produção, é cada vez mais difícil e caro se extrair e transportar matéria prima e o concreto hoje chega cada vez mais longe dos centros urbanos. É preciso melhorar a produtividade das construtoras, com os prazos cada vez mais curtos e a mão de obra cada vez mais cara, mostrando que nosso pais está saindo de vez do terceiro mundo. É preciso lançar o concreto cada vez mais alto, cada vez mais profundamente, cada vez mais longe. É preciso dar um grande passo evolutivo, abandonando velhos conceitos, da mesma maneira que abandonamos no passado a fila de carrinhos de mão na porta dos elevadores, a décadas atrás, e passamos a bombear o concreto.

 
E um velho conceito que, na minha opinião, se interpõe no caminho desta evolução é a exigência do slump máximo. Hoje, quando uma construtora adquire concreto, define-se o slump de lançamento a ser estabelecido em contrato e a respectiva faixa de variação, em centímetros, para mais ou para menos. 6+-1 cm, 10+-2 cm, 16+-3 cm, etc. Se por acaso um concreto com slump de projeto definido em 10+-2 chega na obra com slump 13, 14 cm ele será rejeitado e devolvido para a concreteira. Isso se dá porque, se o slump é superior ao determinado, há uma grande chance de que se tenha colocado mais água do que o limite, comprometendo assim o fator água / cimento e consequentemente a resistência mínima a compressão.

 Mudanças de paradigmas ainda são difíceis na construção civil
 
Ora, quando se trata de concretos convencionais, que usam aditivos plastificantes comuns ou apenas retardadores de pega de origem orgânica, baratos e sem grandes perspectivas, isso é bem verdade. Mas isso criou uma inversão de responsabilidades muito importante. Ora, se você Construtor está adquirindo o concreto de uma grande empresa fornecedora, Acha que quem deveria se preocupar e se certificar da resistência e qualidade do concretoé você? Será mesmo sua função participar do controle de qualidade da concreteira a ponto de inferir na dosagem de água e na proteção do fator a/c? Será que o slump máximo é, então, um item imprescindível para o controle de recebimento do concreto?

 
Estas perguntas são respondidas hoje com um sonoro “SIM”, porque vivemos em um ambiente em que o cliente não confia na prestação de serviço da concreteira. E muitas vezes a concreteira que não é comprometida com a qualidade se faz valer desse controle feito pelo cliente, no local da entrega, para economizar no seu próprio quintal. Quem for lá na companhia onde eu trabalho verá um setor inteiro dedicado ao controle do fator a/c durante a produção com maquinário, instrumentação e funcionários específicos e tudo isso custa dinheiro. Mas é preciso restaurar a confiança na parceria cliente / concreteira e eu digo porque:

 
Se hoje nós temos aditivos superplastificantes a cada dia mais capazes de se obter grandes performances de trabalhabilidade e resistência mecânica dos concretos, porque usamos eles apenas em casos especiais? Porque não usamos no fck 25,0 ou 30,0 comuns que preenche a grande maioria das vigas e lajes por aí? O principal motivo, na minha opinião, é a manutenção de plasticidade. Ou seja, o tempo que o concreto permanece com slump acima do limite mínimo. Observe abaixo os resultados do ensaio de slump ao longo do tempo do mesmo traço de concreto, apenas mudando a dosagem de um determinado aditivo (de próxima, não última, geração):

 
Baixa dosagem de aditivo:

 
Tempo           Slump
T 0                100 mm
T 30 min        80 mm
T 60 min        70 mm
T 90 min        60 mm

 
Dosagem de aditivo ligeiramente maior:
 

Tempo           Slump
T 0                180 mm
T 30 min        170 mm
T 60 min        160 mm
T 90 min        155 mm

 
Observe como a manutenção de plasticidade é muito mais eficiente quando se trabalha com slumps maiores, concretos mais plásticos. E neste segundo caso, mesmo com a dose maior de um aditivo caro, o custo é muito similar a um concreto comum de slump 9+-1 cm que usa aditivos normais. O problema é a imprevisibilidade do slump inferior. Ora, se a temperatura muda, o tempo de transporte varia, o concreto poderá chegar com slumps diferentes à obra. A única maneira de se trabalhar nestas condições era estabelecer um limite mínimo de slump, deixando o limite máximo livre, uma vez que se sabe que o fator a/c não está sendo alterado, apenas a manutenção de plasticidade mudou com as condições de contorno. Isso é bem fácil de acordar em uma situação especial mas para o concreto comum do dia a dia demandaria uma mudança comportamental muito grande.

Obra realizada com concreto Agilia, sem definição de slump superior, sem vibradores, sem barulho, sem vazios de concretagem, sem perda de tempo.

 
Claro que situações específicas, exceções, seriam tratadas como exceções, mas se você precisa na obra de um concreto com slump mínimo de 10 cm e ele chega com 15, 16, 17 ou 11, que diferença faz (não sendo um piso industrial, por exemplo)? Se a concreteira garantisse pra você a resistência e o a/c, apesar da variação de slump, que mal isso traria? Percebi que no mercado europeu, especificamente o francês que tive a oportunidade de conhecer melhor, isso já acontece. O cliente quer saber do slump mínimo: “Deu mais de 10? pode lançar”. O resultado é um uso generalizado de aditivos superplastificantes e uma naturalização dos concretos fluidos e autonivelantes, sem que isso signifique custos mais altos, necessariamente.

 
Acho que está na hora de parar de subestimar a tecnologia de concreto no Brasil e começar a abandonar os fck 20 slump 10 e começar a mirar no Concreto de alto desempenho, no autonivelante, na alta resistência inicial. Obter ganhos financeiros ainda na prancheta do projetista e não apenas no telefone do departamento de compras. Trazer a tecnologia de concreto para a fase de planejamento. Escolher bem a concreteira que vai te atender, valorizar a confiabilidade acima do preço por metro cúbico. Assim vamos aos poucos criando um ambiente progressista que permitirá o salto de evolução que a técnica atual já admite.

 
Forte abraço!

 
 

3 comentários:

  1. Olá Carlos!

    Assunto muito interessante na área de tecnologia do concreto.
    A nova norma de concreto dosado em central a NBR 7212 (ABNT, 2012) já aborda uma mudança na especificação da trabalhabilidade do concreto, Desse modo, o concreto seria especificado pela classe de consistência, variando dentro de uma faixa de abatimento maior do que a especificação da norma revisada.
    E também, é abordado a adição suplementar de aditivo (no caso plastificante) para correção do abatimento caso já tenha colocado toda a água prevista no traço.


    Um forte abraço!

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    Respostas
    1. Caro Guilherme, tua presença constante é uma alegria pra mim. Sabe, é exatamente nesta mudança da 7212 que eu me apoio para dar andamento a meu estudo com esta nova linha de aditivos. Neste momento, apenas aguardo uma bateria de amostras que aguardo ansiosamente, desde antes das festividades de fim de ano. Me prometeram pra esta semana...

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  2. Bom dia
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